"Como não poderia deixar de ser, as imagens de Metabiótica passam como um travelling, como um filme que, ao mesmo tempo, parece tão simples e tão metafísico"


BRUCE LEE NÃO MORREU

A fotografia e a pintura de Alexandre Orion são mesmo um projeto para a filosofia. Nasceu de perguntas íntimas, de provocações que juntam física quântica e teologia. Da idéia de tentar, através dessas linguagens, chegar a um terceiro ponto, um terceiro olhar, no caso dele, de um olhar público “na real”, já que vem da cidade e volta para ela mesma suas tramas pictóricas e fotográficas. Orion é um andante-vagalume que sai das histórias em quadrinhos para narrar outras, as suas, num grafite 

simbólico que se espalha pelo centro urbano para fazer com que o transeunte encontre seus semelhantes pelo caminho e se reconheça através deles.

Primeiro vem a espera. Depois a pintura. Depois a espera. Só ai é que surge o terceiro elemento (homens, mulheres, automóveis, crianças, animais) e então a cena se completa: a física quântica encontra a teologia: a pintura torna-se fotografia. Como não poderia deixar de ser, as imagens de Metabiótica passam como um travelling, como um filme que, ao mesmo tempo, parece tão simples e tão metafísico. 

São imagens que nunca estiveram longe de nós. Esse é o “grande barato” da experiência de Orion: ele vai ao lugar certo, cria a cena certa, espera, fotografa e depois vai embora como apenas alguém que passou... É daí que vem essa
intimidade com o olhar do “outro”, o que leva sua fotografia a uma investigação poética apenas possível ao artista que sabe lidar com o acaso das ruas com a mesma naturalidade com que abre a porta de casa para voltar para si mesmo.

Metabiótica é, também, um caminho para o desafio. Como as realidades que se encontram numa fotografia em que um homem almoça

ao lado de outro que toma um cafezinho ao lado de um garçom que só existe através da máscara da pintura. Orion consegue fazer a cena “existir”. Aí então vem o corte: um segundo depois e nada mais seria como é. Sua fotografia é sempre por uma questão de segundos. Se o cara sobre a moto não fosse flagrado naquele tempo-espaço, o outro, a pintura na parede, deixaria de existir, a fotografia não existiria - a física quântica deixaria de lado a teologia -, e a metabiótica perderia o alvo, a duplicação, o fenômeno da luz e da visão. É desse mundo de contrastes que vem a fotografia de Orion. Para fazer parte dele, basta estender a mão ao transeunte que está passando. 

Diógenes Moura é escritor, jornalista, editor e curador

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