"Todos 

os aspectos
nas intervenções
de Orion transmitem
uma mensagem:
o material usado,
o local de difusão
e as próprias
imagens"


INTERPLAY:
UM CONTO DE RECIPROCIDADE SOCIAL

Projetos de arte de rua estão numa posição única, pois desempenham um papel proeminente na consciência da cidade,
seja pela virtude de seu contexto ou pelo seu imaginário. Acessível, política, sagaz, provocativa, reflexiva ou divertida, a arte produzida na rua é fundamentalmente um diálogo com a paisagem cultural da cidade. Ela constrói e também responde à estrutura econômica, social, política e visual nas
qual está inserida. Em outras palavras, essa forma de arte simultaneamente assimila e recria seu entorno.

Alexandre Orion está entre os artistas 
que escolheram a cidade como palco para suas criações, ele tem especial interesse
em explorar a conexão entre o ambiente construído e suas interações possíveis. Os projetos súbitos, porém muito potentes, que Orion vem desenvolvendo nos últimos anos atingem êxito preciso porque contam uma história que envolve todos nós. A cidade
 é repleta de narrativas, é um universo complexo que existe e amadurece de acordo com as ações de seus cidadãos. Algumas dessas histórias, contadas através da arquitetura e design urbano, são econômicas e políticas. Outras, reveladas através de espaços de lazer como parques, praças, quadras de esporte, são histórias sócio- culturais. 

Não importa que tipo de história
 a paisagem urbana reconte através do seu ambiente já construído, somente o nosso fluxo pelas ruas faz com que o enredo dessa história se desenvolva.

Como pedestres ou em veículos, nosso movimento pela metrópole traz consequências. Com os projetos celebrados neste livro, Orion nos lembra que essas consequências podem ser fatais.

Todos os aspectos nas intervenções de Orion transmitem uma mensagem: o material usado, o local de difusão e as próprias imagens. Tornar visível a poluição que nós criamos em seu contexto de origem, utilizando apenas a própria fuligem para gerar imagens, é uma reflexão poderosa
e um apelo à ação. As ações artísticas de Orion criam momentos de ruptura no nosso fluxo pela cidade. Trabalhando em espaços cotidianos onde não há publicidade nem outros tipos de sinalização, e que de outra maneira seriam considerados banais,
 ele consegue chamar a atenção para a poluição penetrante que nos rodeia, mas que raramente paramos para observar.
Os únicos verdadeiros sinais de vida em lugares como o túnel Max Feffer, por exemplo, 

são os restos – o rastro de fuligem deixada pelos milhares de veículos que por ali passam diariamente. A ativação de espaços como esse através
de imagens propõe de forma sutil a reconsideração do próprio ambiente, e o mais importante, a necessidade de mudança.

O trabalho de Orion não está apenas nas imagens, está igualmente nos materiais usados para produzi-las e na escolha dos locais onde serão difundidas. Os crânios
em Ossário e nas Polugrafias, por exemplo, foram criados diretamente, seja pela remoção ou pela captura da fuligem emitida pelos carros. Essa fuligem foi então reciclada e utilizada na criação de imensos murais em locais também escolhidos para revelar o significado do trabalho. A sincronia obtida através da interação desses elementos impregna o trabalho de Orion com narrativas significativas criadas através de imagens impactantes que reverberam entre o público. Por meio desses projetos, Orion traz à tona um dos mais importantes ideais inerentes à arte urbana – sem mediação, a sugestão para desafiar o status quo.

Anna Waclawek é professora do Departamento de História da Arte da Universidade de Concórdia em Montreal, Canadá

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