"São a memória intersubjetiva do rosto, do outro como espelho de troca em que o artista reflete suas vivências na rua"

ME(s)MO(s)

Em MEMO, Alexandre Orion refere-se à memória, à uma forma deescrita imagética destinada a lembrança, um memento em que registra sua experiência. 

E compreenda-se por experiência, qualquer que se possa imaginar a relação com o outro ou com a ausência dele. Em sua busca por um ‘self’, Orion diz que "MEMO é também um jeito maloqueiro de dizer 'mesmo'. Porque, ainda que os retratos sejam tão diferentes entre si, eu me reconheço e me construo em cada um deles…".


Conhecido por projetos de grande escala e alcance, Orion segue trabalhando em intervenções monumentais, dentro e fora do país. No entanto,simultaneamente, sentia a necessidade de organizar seu repertório acumulado nos últimos anos. E encontrou nos retratos de sua “memória ïnventada” a melhor maneira de fazê-lo.

MEMO resgata a técnica de pintura empregada por Orion no início
de sua atividade artística, quando andava pelas ruas da cidade com a mochila carregada de sprays. Nessas caminhadas à dérive, como chamou Guy Debord, o jovem artista procurava não apenas muros, mas histórias. E essas histórias são o principal resgate de suas pinturas. 

Elas são, como Orion as chama, “autorretratos coletivos” dos inúmeros encontros que a rua lhe proporcionou. São a memória intersubjetiva do rosto, do outro como espelho de troca em que o artista reflete suas vivências na rua.

Desde a invenção do retrato, seguida posteriormente pelo surgimento da fotografia, potencializado pelos avanços tecnológicos que fizeram da imagem fotográfica e dos selfies algo corriqueiro,parece equivocadamente não haver retrato sem um retratado. Mas o que de fato é um retrato?

Esta série de pinturas evidencia que todo retrato, seja pictórico ou fotográfico, jamais é uma reprodução fiel do retratado, mas sim, uma representação, a (re)presença do outro através da visão do autor. E tal qual defendeu Pitkin,representar é se colocar no lugar de alguém. Cada retrato é simultaneamente memorial e invencional. Orion elenca imagens de sua lembrança e as coloca em prática com os limites que o artifício do spray, rápido, desafiador e expressivo, lhe permite conceber. Artista e retratado são um só.

Fazendo uso de apenas uma cor, sem sobreposições, ajustes ou correções, Orion obtém um efeito surpreendente com sua pintura e celebra sua experiência artística, sua habilidade técnica adquirida ao longo
de mais de 22 anos, mas principalmente sua vivência e os encontros que construíram sua jornada até aqui. "Cada pintura é uma homenagem. É um jeito de tornar presente minha gratidão", afirma o artista.

Somos muitos, somos tantos, anônimos, célebres, diversos e tão semelhantes à nós ME(s)MO(s)

Helio Zanepe é tradutor e escritor.

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